terça-feira, 24 de julho de 2012

Angolistas e angolanos


Alfabetização de mulheres na região metropolitana de Luanda
É engraçado, mas eu pensava que iria encontrar muitas galinhas cantando “to fraco, to fraco” aqui em Angola. Por incrível que pareça não vi nenhuma até o momento. Talvez seja porque eu estou em Luanda, um grande centro urbano. Também pode ser que elas nem existam por aqui ou possuam nomes diferentes.

Estou escrevendo e rindo sozinha, por que hoje mesmo uma amiga de São Paulo me perguntou se tinha muitas “angolistas” aqui. E mais: ela me indagou se Angola tinha esse nome por causa das galinhas!

Então resolvi pesquisar, confesso que fiquei curiosa. Como o conhecimento nunca é demais fui buscar uma resposta razoavelmente coerente para dar à minha querida amiga. Bem, descobri que o nome desse país cheio de contrastes e belezas nada tem a ver com galinhas.

O nome derivou-se da palavra Ngola, cujo significado era príncipes que governavam o reino de Ndongo. Este reino era formado pela tribo Ambundu, que com o passar do tempo se fragmentou em vários outros reinos. E a partir da chegada dos portugueses, os pequenos governos existentes foram aos poucos se espalhando por um grande território. A toda essa área chamaram Angola.

Angola é uma nação jovem, com inúmeras razões para estar aos poucos sendo reconstruída e reestruturada. Faz apenas 37 anos que tornou-se independente de Portugal.

Quem acompanhou um pouco da história angolana, lembrará, mesmo que vagamente, a importância dada à Conferencia de Berlin, e posteriormente ao acordo de Alvor. Objetivava-se tornar Angola um país independente e democrático. Infelizmente isso não aconteceu de imediato; foi o início da guerra civil.

Na época em que foi assinado o acordo de Arvor, havia três movimentos que lutavam pela independência do país. O tão esperado sonho da liberdade tornou-se o pior pesadelo deste povo.  Foi considerada a guerra civil mais sangrenta e devastadora da história, arrasando o país inteiro. Fato este, que ainda hoje se reflete no dia a dia das pessoas daqui. 

Faz dez anos que Angola vive sem conflitos internos, mas há muitas marcas da guerra. Marcas nos semblantes, nas atitudes, na realidade, no desenvolvimento, na estrutura e notoriamente no contexto social. Marcas que aos poucos, lentamente, vão sendo esquecidas, superadas e modificadas.

Para quem, como eu, não vivenciou isso, é difícil entender o que é uma guerra. Mas para quem ouviu o barulho das bombas, sentiu de perto os estilhaços das balas, é difícil esquecer os traumas que ela deixou. 

Encontrei muitas pessoas que vivenciaram a guerra e as histórias são diversas. Parece-me que há unanimidade num único sentimento: tudo, menos a guerra!

Os angolanos são um povo colorido, cheio de musicalidade, embevecido em sua religiosidade milenar. Uma gente que tem sede de conhecimento, que busca com seus olhos negros vislumbrar um mundo melhor.

Em minhas primeiras pesquisas procurei galinhas que cantam “to fraco, to fraco” e estou conhecendo um povo que, em poucas palavras, me diz: “to forte, to forte”.

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