quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Pela paz


Ontem fui conhecer um pouco dos bairros periféricos daqui de Kuito. Vi muitas coisas boas; pessoas batalhando pela dignidade, criando várias formas para sobreviver, levando a vida sem medo. Mas há o contraste da pobreza, da vida indigna, dos traços que a guerra teima em manter presente em muitos lares e mentes. 

Vi muitas pessoas bebendo algo em um saquinho que custa em torno de 20 kwanzas. Descobri que é um tipo de "wisque" chinês. Bebem como se fosse água. Por falar em água, ficamos dois dias sem - a falta dela é um problema comum e habitual em toda a Angola. O excesso de bebida alcoólica também é um problema nacional; paradoxalmente, muitas vezes é mais barata que a água escassa. 

O povo faz o que pode, mas o ritmo da Angola é lento, as coisas são demoradas e, muitas vezes, uma das formas de tentar fugir da realidade cruel é beber. A tal da cuca (cerveja) é encontrada em todo lugar, tão fácil quanto o saquinho de "wisque".

Há bairros que nem têm estradas, somente picadas. As escolas são precárias, sem carteiras, sem material e sem professores; nas que têm docentes, eles não estão preparados.

Também percebi que o custo de vida daqui é bem mais barato que em Luanda. Enquanto a passagem de ônibus lá custa de 100 a 200 kanzas, aqui sai por 50 em média.

Estamos em período de eleições. Fala-se em “votar pela paz”; não sei qual o sentido exato dessa paz que mencionam, pois já faz mais de dez anos que não há guerra civil. No meu ver, votar deve ser pela justiça, pela igualdade social e pela melhoria nas políticas públicas e isso se refletirá em paz. Penso que os políticos preferem jogar com os traumas da população. 

Nenhuma novidade para quem veio do Brasil, não é? Mais do mesmo, só que do outro lado do Atlântico.

Esperança - jovens trabalham na construção de uma nova escola


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